IBS promove curso de Comunicação Não-Violenta

A partir desta terça-feira (13/07), a IBS inicia um processo formativo muito importante para os objetivos da Iniciativa: dialogar sobre como usar a comunicação para que ela se torne um instrumento de troca –  respeitosa, compreensiva, baseada no autoconhecimento de nossos sentimentos e na postura de observar e compreender as necessidades do outro.

A Comunicação Não-Violenta (CNV) foi desenvolvida pelo psicólogo Marshall Rosenberg a partir de sua própria vivência dos conflitos raciais nos Estados Unidos da década de 1960.

Para apresentar o tema do curso – que já está com a primeira turma completa –  a IBS promoveu no último dia 06/07 uma live com a psicóloga Lucia Frigerio, especialista em diálogo social e mediação de conflitos.

Ela falou dos aspectos mais importantes da CNV. Destacou que a comunicação deveria servir para unir as pessoas, para integrar, mas muitas vezes, em nossa cultura, serve como ferramenta de oposição, de violência. Isso acontece quando as pessoas não buscam conhecer seus sentimentos de modo que possam se expressar com clareza e verdade. E também quando não buscam compreender as necessidades, os sentimentos do outro que estão sendo manifestados em sua forma de comunicar, que pode ser agressiva. “Precisamos praticar o autoconhecimento, buscar observar quando estamos tristes, nervosos, ou mesmo alegres, e procurar entender por que estamos assim. Devemos buscar uma coerência entre nossos sentimentos e nossa forma de comunicá-los, pois quando falamos ou quando o outro fala está sendo expresso um sentimento. Assim, do mesmo modo que preciso entender o sentimento por trás da minha fala, preciso buscar compreender a necessidade do outro expressa em sua comunicação”.

Os integrantes da IBS presentes à live contribuíram com o evento narrando diversas situações de violência na relação das pessoas de seu convívio e em espaços diversos. E muitos trouxeram depoimentos de aprendizado e superação diante de tais situações.

Fátima Solange Goes, a Sol, da Associação dos Moradores da Comunidade São José, contou que  não tinha moradia fixa e que passou a viver numa ocupação. “As pessoas que vivem assentadas são xingadas de bandidas e de tudo que não presta. Não sabia lidar com isso. Quem me conhece, sabe: eu respondia em cima! Não levava desaforo para casa, como se diz, mas fui me lapidando e hoje tem pessoas que nos criticam, mas busco uma maneira de responder sem levar para a discussão”.

Olívia Lima da Cunha, diretora de educação da Cooperativa Árvore da Vida, também narrou as ofensas que sofreu por ser catadora de resíduos. “Era tratada como lixo”, conta. “Nunca estudei em sala de aula; aprendi a ler e escrever sozinha, convivendo com as pessoas e trabalhando. Passei dois anos dentro de um lixão e hoje me sinto preparada e sou dona do meu próprio negócio”.  “Certa vez”, conta, “estava num evento e havia uma equipe trabalhando. Ouvi um rapaz falar:  ‘‘Oh my god! I need water’. Me levantei, fui buscar um copo de água e dei para ele. Ele ficou espantado: ‘Well!! Do you speak english?’ Eu disse: ‘More or less’. As pessoas em volta pensaram: “ela fala inglês” e começaram a me dar valor”. E disso concluiu: “As pessoas não devem dar valor pelo que as pessoas fazem, mas pelo que é. Temos que nos respeitar; aprender a dialogar, contribuir para dar  voz à comunidade que representamos”.

Renato Barros Brandão, da Abaroi (Associação dos barraqueiros, artesãos e ribeirinhos da Orla de Itupanema), destacou a importância da formação proposta pela IBS para o amadurecimento das discussões.  “Já fomos violentos em nossas falas porque precisávamos ter voz. As empresas achavam que a sociedade civil estava querendo interferir. Hoje estamos chegando a um outro nível de entendimento, de diálogo para mudarmos este cenário no qual há grandes empreendimentos, porém, se for feito um levantamento socioeconômico, a população está sem renda, está desempregada. Precisamos mudar isso. Pegar essas pessoas que estão à margem e que precisam ter voz, ter renda. Tudo passa pelas pessoas. Precisamos dessas formações para que a gente possa amadurecer”.